“Gritaram até a última hora”, relata vizinha de crianças carbonizadas em Água Branca
A agricultora, Rosa Sousa, relatou o momento de desespero vivido pelos moradores do povoado Gogó da Ema, na zona Rural da cidade de Água Branca (PI), ao tentar socorrer os dois irmãos, que foram carbonizados em uma das casas da região.
Os irmãos Sofia e Samuel tinham sete e cinco anos, respectivamente. As chamas iniciaram por volta de 20h e se espalharam rapidamente pelo imóvel, que tinha apenas um cômodo. A mãe das crianças, Luzinete Ricardo da Silva, não estava em casa no momento do ocorrido.
Em entrevista à TV Clube, a dona Rosa Sousa afirmou que, ao chegar à casa, ouviu as crianças pedindo ajuda. Ela e outras pessoas tentaram arrombar a porta de entrada, mas não conseguiram.
“Chegaram várias pessoas para tentar arrebentar o portão e de repente explodiu tudo e saiu aquele fogo por cima. As telhas caíram. Quando as telhas caíram, não conseguimos mais ouvir os gritos deles. Gritaram até a última hora. Disseram que eles estavam lá, juntinhos. Quem é mãe, passa pela mesma dor, porque a gente imagina os filhos da gente”, contou.
O esposo de dona Rita, Francisco Sousa, foi um dos primeiros a ouvir o choro das crianças na noite de sábado (3). Logo depois, ele percebeu o fogo na casa e avisou à mulher.
“Eu estava aqui sentado e escutei as criancinhas chorarem. E eu disse: ‘aqueles meninos estão sofrendo alguma coisa’. A minha mulher disse: ‘deve ser a mãe deles brigando com alguma coisa’. E eu disse que não era. Quando eu olhei, era fogo”, lembrou o agricultor.
A casa em que a mãe e os dois filhos moravam foi cedida pelo agricultor Antônio Neto. Segundo o proprietário, Luzinete da Silva teria deixado as crianças trancadas em casa para poder levar comida ao pai, que morava próximo ao local.
“Eu tinha cedido essa casa só para ela zelar. Estava morando aqui há cerca de oito meses. Levava as crianças ao ponto de ônibus para ir ao colégio e ia para o serviço. Ela ia trabalhar meio-dia e pegava as crianças. À tarde, do mesmo jeito. Pegava as crianças, trazia para cá, dava comida e ia cuidar do pai dela”, afirmou.
Tragédia
De acordo com os moradores do povoado, o Corpo de Bombeiros foi chamado, mas apenas um caminhão-pipa cedido pela Prefeitura de Água Branca chegou para combater o incêndio, mas já depois do fogo se alastrar pela casa.
A casa não tinha janelas, o que dificultou o socorro por parte dos moradores. A porta da frente era de ferro e estava trancada com uma corrente e um cadeado, conforma relatou a agricultora, Rosa Sousa.
O avô das crianças, José da Silva, mora próximo à casa. Ele está com a saúde debilitada e não conseguiu ir à residência. O idoso afirmou que foi avisado pela filha ainda na noite de sábado.
“Quando chegaram, já estava tudo caindo, queimando. Não puderam nem entrar. Quando chegaram, a polícia já estava. Ficamos tristes. Todo mundo tentando imaginar o motivo, sem saber como pôde acontecer”, pontuou.
Os corpos das vítimas chegaram na madrugada de domingo (4), por volta de 2h30, ao Instituto de Medicina Legal (IML) em Teresina (PI) e vão passar por exames para confirmar as causas da morte.
Ainda não se sabe o que provou as chamas na residência, uma das suspeitas é de vazamento de gás. O Conselho Tutelar acompanha a tragédia. O Corpo de Bombeiros vai apurar as causas do incêndio.